Tu nos alertas sobre os tempos sombrios

Tu nos alertas sobre tempos sombrios,
ante a traição de familiares bem próximos,
a perseguição promovida pelos poderosos,
mas para sermos fiéis ao Evangelho da justiça,
urge cultivarmos, desde agora, a tua fé no Abba,
a tua escuta plena, fecunda e sempre atenta,
das noites em claro em busca da sabedoria,
importa aderirmos ao projeto salvífico do Reino,
aguçarmos o discernimento crítico e autocrítico,
buscarmos a direção do caminho a ser trilhado,
desenvolvermos a resistência criativa dos pobres,
e não claudicarmos diante das adversidades,
não cedermos mesmo diante da cultura do ódio,
não apostarmos na via das armas e da violência,
e, mesmo que caminhemos contigo na contramão,
crermos firmemente que a beleza, a luz e o mistério
dos crepúsculos, dos jardineiros e timoneiros no mar,
da primavera teimosa e dos casais que se engravidam,
do sorriso das crianças e do olhar serenado dos idosos,
são mais belos e fortes que o poder da cruz e da morte.

Mestre dos caminhos e dinamismos do Reino,
homem experimentado no deserto e na dor,
na solidão das travessias escuras e adversas,
no sofrimento cruento da cruz da injustiça,
somos teus discípulos e discípulas desafiados:
para adquirirmos a tua iracúndia profética,
para desenvolvermos a força de tua lucidez,
para perseverarmos nas noites mais escuras,
para resistirmos nas lutas infindas dos oprimidos,
para andarmos de mãos dadas com os pobres,
importa, Senhor, que caminhes a nossa frente,
que sintamos a presença amorosa do Abba querido,
e que experimentemos a luz e força da Divina Ruah.

Edward Guimarães
Belo Horizonte, 26 de novembro de 2022.
Poema oração provocado pelo Evangelho (Mateus 10, 17-22).
Foto: Registro de Pedro Casaldáliga e Milton Nascimento.

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