Que este teu olhar, menina, seja o nosso olhar também

Minha filha inocente,
com o seu axé quilomba,
os traços da África negra,
o seu sangue guerreiro,
e a força dos orixás,
parece deter, sem pressa,
como senhora do tempo,
seu olhar meigo, singular,
que reverencia o sagrado,
olhar cheio de admiração
de encantamento místico,
ao mirar cada um deles,
é como se conhecesse,
com um silêncio profundo,
a dor, as lutas e a resistência,
de cada povo indígena:
que este teu olhar, menina,
seja o nosso olhar também.

Que as nossas crianças,
pela Luz de sua inocência,
nos ensinem com urgência,
hoje, amanhã e depois,
as muitas lições esquecidas,
a da via do amar, cuidar e servir;
a da reverência e gratidão
aos ancestrais, aos pais,
e aos guias espirituais;
a de reconhecermos, de fato,
no coração e nos pés,
que somos todos iguais,
no grande chamado da vida,
de sermos eternos aprendizes,
no início, no meio e no final;
a de percebermos a beleza da Luz,
que fica no altar da irmandade,
a força do vinho do respeito,
e o bailado da partilha do amar.

Edward Guimarães
Belo Horizonte, 19 de abril de 2024.
Dia de celebrarmos a sabedoria, a dignidade, as lutas infindas e a imensa resistência de nossos povos originários.

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta