Quando sinto que minhas forças se fragilizam

Em qualquer tempo, momento ou dia do ano,
quando sinto que minhas forças se fragilizam,
e o esperançar se apresenta lá dentro de mim,
como um fiozinho tênue que vai se arrebentar,
e o ânimo, como uma chama quase a se apagar,
foi no árduo Caminho da fé que a vida me ensinou…

Experimento lá dentro de mim uma voz,
um chamado a contemplar devagar, sem pressa,
a refletir franciscanamente sobre o presépio da exclusão,
o Menino Jesus, com Maria e José, os pobres pastores,
os magos buscadores da luz, os anjos de Deus a louvar,
a noite, o céu estrelado e a lua a brilhar lá no alto…

Sim, experimento lá dentro de mim uma voz,
um chamado a contemplar devagar, sem pressa,
que em cada criancinha que nasce entre nós,
Deus renova a sua teimosa aliança conosco,
aliança de quem confia no dinamismo do amor,
que, com perseverança e resistente entrega,
se eterniza em cada ato de amar-cuidar-servir!

Só então é que o milagre nos acontece,
nosso olhar para a vida se transforma,
torna-se sereno o nosso coração a pulsar,
e, agradecido, renovo meu compromisso-entrega,
ao descobrir que tenho livre o acesso,
às fontes de força, fé e coragem de lutar.

Contemplo e reflito sobre a vida dos pobres,
que apesar de encontrar tantas portas fechadas,
e tudo ao seu redor dizer não a sua dignidade,
não desistem nunca e escolhem sobreviver…

Contemplo e reflito sobre a vida das mulheres
que apesar de tantos corpos estuprados e mortos,
e as mil faces e punhos da violência patriarcal,
com certeza invencível, fazem do luto nova luta…

Contemplo e reflito sobre a vida dos povos originários,
que apesar de todas as mortes nos genocídios sofridos,
e diante de seus direitos fundamentais tão desrespeitados,
resistem com a força da ancestralidade em cantos e rituais…

Os vulneráveis aprendem e se fortalecem nas noites escuras,
nas rodas de conversa e na partilha da dor ao redor do fogo,
que o segredo da vida está no dinamismo cíclico da natureza,
no cultivo do cuidado com as minúsculas sementes que brotam
e com os frágeis filhotes dos humanos e animais que nascem.

Nesta passagem de ANO NOVO que de nós se aproxima…
tenhamos a mesma força, fé e coragem dos vulneráveis,
e demos juntos e de mãos dadas, um brinde coletivo à vida,
à Vida Nova que nos chega com suas exigências e possibilidades!

Edward Guimarães
Belo Horizonte, 27 de dezembro de 2023.
Na preparação do coração para a véspera e chegada do Ano Novo de 2024.

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