A chama que me move

Unir a terra e o céu,
acolher a “Presença”,
transcendente,
invisível aos olhos teus,
sem olvidar os apelos,
imanentes,
da vida presente
a interpelar o coração.

Não há abismo,
intransponível,
entre humano e divino,
história e futuro,
utopia e realidade:
eu habito no horizonte,
mas me nutro do crepúsculo.

Nas noites, escuras e longas,
vivo na espera da aurora,
entrego-me ao Amor,
gesto imprescindível,
nas travessias,
torna a vida digna
de ser vivida.

Acolho a “Luz Imperecível”
que emana do “Ser sem Nome”
Fonte e facho bruxuleante,
e eu, girassol na escuridão.
Encontro no “Manancial”
ninho para a alma descansar.

Como se tratam os amantes
trato Deus à luz de velas,
intimidade conquistada
moldada na olaria do amor.
Não nos entenderão, eu sei
os que fazem da religião
apenas rito e mercado:
o amor machuca,
a liberdade amedronta,
a nudez envergonha,
a intimidade com Ele
é sonho e quimera.

O amor para ser livre,
há de ser purificado,
por isso ando a pé
nas estradas da vida,
contemplo os detalhes,
as miudezas ínfimas da paisagem.
Sim, ando a pé e vazio, confesso,
não temo deixar-me preencher,
qual prisma, pela “Luz” penetrar,
vivo sedento do “Mistério”,
bebo na lucidez profética,
não busco aplauso,
saciar o olhar alheio,
nem decifrar enigmas:
Já experimentei
o néctar da vida.

Da cruz me apaixonei,
sangrando,
Ele amou até o fim,
entregou-se sem medida,
sua cruz se tornou símbolo imortal,
lâmina, afiada nos dois gumes:
atrai e seduz,
desnuda e expõe a nudez.
A vida do crucificado
revela oculto mistério:
a origem e o destino da vida
encontram-se no “fim”.
A morte do crucificado
torna-me peregrino,
trata-se de um “Caminho”.
E ao trilhá-lo compreendo,
que o que eu procuro,
encontro…
mas com desejo infindo
de seguir buscando.

Edward Guimarães
Belo Horizonte, 02 de agosto de 2010.
Homenagem ao teólogo e amigo, João Batista Libanio, e, ao poeta da liberdade libertada, Paulo Gabriel.

2 Comentários

  1. Ola Edwardo, bonita e profunda reflexão. Admiro sua capacidade de plasmar no papael o que sente, pensa e vive. Não tenho o dom da escritura, nem da poesia, mas adoro lertudo que você escreve. Obrigado por compartilhar conosco. Um abraço.

    • Que alegria receber este retorno seu, estimada Ildete. Que você experimente Deus bem pertinho de você em sua caminhada, no amar e servir.
      Com estima fraterna,
      Edward

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