Sim, de fato, é quase impossível

Muitas vezes eu me perguntava,
sobre o porquê desta dificuldade
sim, desta quase impossibilidade:
um rico entrar no Reino dos Céus,
e eu me debatia contra  teu alerta.
Hoje, confesso, já não me debato,
ó Jesus, Mestre fiel dos caminhos,
que nos libertam e levam até Deus,
viver em contexto de desigualdade,
com os bens e o poder econômico,
acumulados nas mãos de poucos,
a cada dia ainda mais concentrados,
e a maioria dos irmãos sem o básico,
oportunizou-me alcançar tua lucidez.
 
Sim, de fato, é quase impossível,
a um rico entrar no Reino dos Céus,
cuja porta, tão estreita para passar,
é a necessária liberdade para amar.
Quem não cultiva com determinação
o íngreme caminho do desapego,
da generosidade com o próximo,
da empatia que nos torna solícitos,
não consegue compartilhar o ser,
e, muito menos, o que acumulou.
Ao contrário, por dar valor primeiro,
ao dinheiro e ao poder econômico,
vai se tornando indiferente ao pobre,
e insensível diante dos vulneráveis.
A lógica fria da riqueza é diabólica,
não é dividir, partilhar, mas ajuntar.
Cria tantos mecanismos de defesa,
que passa a justificar que ser rico,
não tem maldição, é benção divina.
E passa, então, a julgar-se superior,
a olhar e julgar os irmãos vulneráveis,
como pobres coitados amaldiçoados.
 
Dá-nos, Jesus, o dom de tua lucidez,
firmada na sabedoria que vem do alto,
que olha o pobre com bem-aventurado,
não por causa de sua pobreza em si,
mas porque ele consegue passar,
pela porta estreita do Reino dos Céus.
Ensina-nos a trilhar a via do desapego,
para conquistarmos a liberdade para amar.

Edward Guimarães
Belo Horizonte, 20 de agosto de 2024.
Poema oração provocado pelo Evangelho (Mt 19, 23-30).

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