Quando teu jardim das oliveiras foi invadido e profanado

Que noite escura
esta quinta-feira singular,
quando teu jardim das oliveiras
foi invadido e profanado,
oh Beija-flor querido,
que nos foi enviado,
portador a Luz celestial,
tu foste traído por Judas,
uma de tuas belas flores,
então, foste aprisionado,
na calada da noite julgado,
e, por teu amigo Simão Pedro,
outra flor muito querida,
abalada e impactada,
dominada pelo medo,
medo de ser despetalada,
tu foste por três vezes negado.

“Se é a mim que procurais,
não profaneis o meu jardim,
não despetalai as minhas flores!”
Este teu amar, cuidar, servir,
mesmo em noite tão escura,
revela-nos a tua beleza,
a Luz divina que de ti irradia,
Luz que ilumina as trevas,
e fecunda de horizontes o nosso ser.

Amarrado, tu foste levado
à presença de sumos sacerdotes,
primeiro Anás e depois Caifás,
que bem antes de tua prisão,
de qualquer julgamento justo,
a tua morte já tinham arquitetado.
Foi quando notaram o teu ser,
o teu poder de revelar,
a quem jazia nas trevas,
a Luz divina libertadora.
Não bastou a eles te prenderem,
foste levado a presença de Pilatos,
que, envolvido em trama diabólica,
se acovardou, lavou as mãos;
e ao constatar a tua inocência,
se submeteu, talvez por medo,
ao cruel desejo de teus algozes,
e permitiu o fragelo da tortura insana,
o escárnio do manto vermelho,
e de uma coroa de espinhos,
o agredir a tua dignidade humana,
e o negar a tua beleza divina,
e decretou a tua morte infame,
na ignomínia cruenta da cruz.

Onde encontraste forças, Jesus,
para manter firmeza e fidelidade,
no carregar e no sangrar na cruz,
para amar e amar até o fim?
Imerso no sofrimento da cruz,
nos deste a tua mãe como mãe,
e nos revelaste a tua sede infinita
de estar com o teu Abba querido.
Dá-nos, hoje e todos os dias,
oh Jesus, Mestre do caminho,
este dom de carregarmos a cruz,
e de amar, de amar até o fim!

Com Maria, a nossa Mãe querida,
submergida em oceânica tristeza,
e com teus discípulos e discípulas,
as tuas flores todas murchadas,
sem aquele brilho do esperançar,
oh Beija-flor querido, vindo do Céu,
doador da Luz que nos dá a Vida,
no trágico pôr do sol de sexta-feira,
depois de teu assassinato na cruz,
dela te retiraram inerte e sem vida,
e, com refinados panos de linho,
e com perfumes de mirra e alóes,
tu foste, às pressas, sepultado,
num jardim anônimo e sem flores:
de que nos adianta este outro jardim
sem a beleza de teus voos celestiais?
E o crepúsculo se fez noite escura,
noite escura dentro e fora de nós,
haverá o raiar de uma Nova Aurora?

Edward Guimarães
Baependi, terra de Nhá Chica, no jardim do Céu do Gamarra, 29 de março de 2024.
Poema-oração provocado pelo Evangelho (Jo 18, 1- 19, 45)

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