Pode até parecer,
que me conhecem por inteiro,
por conviverem comigo…
Não caiam nessa tentação,
ilusão, miopia:
tornem-se, ao contrário,
viajantes em minhas rotas,
incansáveis descobridores,
de novas facetas,
ângulos côncavos e convexos,
aprendizes de mim
em mim e comigo.
Eu também, acreditem,
não me conheço,
tanto assim,
cabalmente,
e me procuro,
às apalpadelas,
à luz de velas,
à luz da lua,
do brilho das estrelas,
à luz do sol,
dos encantos do mar.
E não temo explorar em mim,
novas paisagens, janelas,
frestas, fendas, cavernas,
abismos abissais.
E escalar os cumes,
de longe avistados,
os meus “everestes”,
as minhas “florestas amazônicas”,
os rios caudalosos,
os lagos e os pântanos,
e também meus “saaras”,
com seus enigmas, riscos, ameaças.
Há tantos mistérios,
sorrisos inéditos,
lágrimas, silêncios, olhares…
que lhes dão acesso,
ao meu avesso,
tão diverso do que aparece,
aos olhos, no espelho, na fotografia.
Há em mim muitos medos,
os que eu já sei,
os que ainda não contei,
e os que eu desconheço,
e que brotam em mim,
sem me avisar, sem me pedir,
sem que tenha qualquer controle.
E há também,
essa mistura insólita,
de força e coragem,
de enfrentar os medos,
de lidar e de acolher
o novo, o desconhecido,
de trilhar meus labirintos,
sem receios de me perder,
de me estranhar,
de me revelar,
de me ampliar,
de superar limites.
Há o que eu ainda não sei,
o que não lhes contei,
não quis lhes contar,
o que me planejei,
em sonhos acordados,
em desejos pujantes,
o que ainda quero
e, se Deus permitir,
vou realizar.
Há tanto em mim,
por dizer, por fazer,
e tantas outras mais,
por sentir,
por descobrir,
por lhes mostrar.
Mas é preciso ter calma,
a mim e a vocês,
termos paciência,
dizermos não à pressa,
e com carinho,
intimidade e tato,
aprendermos juntos.
Mas atenção,
há uma imensidão,
enorme, oceânica,
não, é quase infinita,
que já me sei,
que já me gosto,
colorida, luminosa.
Mas também há outra,
escura, cheia de sombras
que eu desconheço,
que me fascina,
e que me procuro,
Vocês sabiam?
Vocês já notaram?
Querem me percorrer?
E comigo me decifrar?
Edward Guimarães
Belo Horizonte, 22 de fevereiro de 2024.
Poema provocado no trânsito, quando levava minha filha para a escola. Foi tão intenso que foi preciso sentar no carro e escrever, no celular mesmo, para não perder.
Seja o primeiro a comentar