Neste tempo tão atroz em que nós vivemos,
com tanta injustiça, desigualdade e violência,
não podemos esquecer das lições da história,
de todos os tiranos que se julgavam onipotentes,
e desejavam impedir o alvorecer da primavera,
destruir a força da fé libertadora no Reino da justiça,
esta fé que sustenta a caminhada e as lutas do povo:
nunca conseguiram apagar a chama frágil da esperança!
As estratégias dos poderosos são tão conhecidas,
primeiro tentam destruir o nome do movimento,
e visam tornar ilegítimas suas ações afirmativas,
que procuram garantir a vida digna para o povo,
e difamam com bombardeio diários de fakenews,
ou procuram comprar a consciência dos líderes,
dos homens e mulheres que animam a caminhada:
nunca foi suficiente para destruir a resistência popular!
O alvo, então, passa a ser os que lhe são mais próximos,
os familiares, os amigos e amigas, os companheiros,
e intimidam com cartas anônimas e muitas ameaças,
procuram desmoralizar a utopia, a causa, a bandeira,
e as mediações políticas: o partido, o sindicato, os coletivos,
o que desejam é criminalizar os movimentos dos oprimidos,
e chegam insanamente a matar pessoas comprometidas:
nunca conseguiram paralisar ou impedir as lutas do povo!
Denunciam recorrentemente as lideranças nos tribunais,
e, tantas vezes, ao arrepio da lei e a conivência dos que julgam,
mesmo sem haver provas concretas, conseguem condená-los,
e, com o objetivo de prendê-los, não temem ações suspeitas,
rasgar os princípios basilares de nossa Constituição cidadã,
arquitetar a produção e o uso de falsas delações premiadas,
ferir o bom senso e até mesmo anular as exigências da justiça:
também nunca foi suficiente para destruir a fé na caminhada!
Será que não sabem que perseguição, injustiça e violência,
como aconteceu no tempo de Jesus, o Profeta da Galiléia,
fazem surgir novos profetas e profetisas no meio do povo,
que anunciam o dinamismo libertador do Reino presente,
e, com muita coragem e iracúndia, denunciam as injustiças,
enfraquecem o poder diabólico dos que semeiam a maldade,
e, com gestos libertadores, nos mostram a força da verdade?
A profecia revela a presença amorosa de Deus no meio de nós!
Na liberdade dos profetas e profetisas o povo se inspira,
sabe que pode contar com a graça do Deus estradeiro,
e no cultivo diário da memória perigosa de nossa história,
ele recorda o sangue de Jesus que foi derramado na cruz,
mas também o sangue dos mártires, de hoje e de outrora,
e, assim, enfrenta os seus medos da violência e da morte,
e, de mãos dadas, continua, teimoso, em suas lutas infindas,
até que a realidade seja espaço fecundo e criativo do Reino!
Edward Guimarães
Belo Horizonte, 30 de novembro de 2022.
Poema suscitado após o resultado das eleições no Brasil.
Foto: Registro do encontro das crianças “sem terrinha”. Homenagem no marco dos 40 anos de resistência de luta do MST que celebraremos em breve.
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