A tecitura contínua de nosso ser no tempo

Ninguém permanece incólume no tempo…
O segredo da vida é irmos nos deixando plasmar,
irmos nos transformando a cada passo ou etapa,
e guiados pela busca de sermos fieis a nós mesmos.

Sim, pela busca de sermos fieis a nós mesmos,
ao nosso projeto de vida pessoal e coletivo,
e por isso tão diferentes do que éramos antes,
por termos acolhido, com coragem e gratidão,
como oportunidades para irmos nos fazendo,
as experiências vividas no grande tear do mundo.

Desse modo, o nosso tecido vai se fazendo,
e cada vez mais complexo, precioso e valioso,
com os erros e os acertos por nós cometidos,
com as vivências e lições da vida aprendidas!

A aurora primaveril de nossa infância,
o turbilhão caleidoscópio da adolescência,
a vitalidade vulcânica de nossa juventude,
as conquistas multifacetadas da vida adulta…
são todos fios entrelaçados e que formam
o tecido de nossa corporeidade crepuscular.

A velhice, para muitos, é peso quase insuportável,
experiência de insegurança e mar de sofrimento,
para outros, porém, é amálgama ou mosaico
de graça e contemplação, de leveza e serenidade,
com inéditas experiências de profundidade abissal.

Quem aprendeu a amar, a servir e cuidar,
não foca nem dá tamanha importância
às superfícies, às aparências, às formas,
que as poderosas e criativas mãos do tempo
foram esculpindo em nosso barro primordial.

Quem se deixou moldar na olaria do amar,
é capaz de alcançar lucidez e de contemplar
nas miudezas ínfimas de cada detalhe,
de cada assimetria, ruga, marca ou cicatriz,
a beleza singular do vivido e compartilhado,
agora eternizado em nossa memória poética,
é o que nos faz “conscientes” à flor da pele,
epidermicamente “sentintes” do que somos:
seres espirituais, encarnados aqui e agora,
e destinados à plenitude do amor em Deus!

Então, que tudo em nossas vidas em construção,
o que é vivenciado em cada efêmero cotidiano,
o que provoca dor e sofrimento, alegria e prazer,
e até mesmo o que é considerado como anódino,
que seja sempre, e teimosamente, a-Deus!

Edward Guimarães
Belo Horizonte, 16 de junho de 2023

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