Não é tão simples percebermos,
aceitarmos e compreendermos,
oh Profeta do reinado de Deus,
as dimensões contraditórias,
solidariedade e egoísmo,
bondade e maldade,
amor e ódio,
afeto e conflito,
diálogo e imposição,
cuidado e violência,
presentes em nossa interioridade
e em nossas relações.
Quando exercemos o livre-arbítrio,
a liberdade e a responsabilidade,
e lidamos com desejos e interesses,
somos todos, cuidado, uma mistura
de trigo e joio,
de cordeiro e lobo,
de luz e sombras,
de anjos e demônios…
mas não do mesmo jeito,
não na mesma medida,
e com igualdade de forças
entre os opostos.
Mais importante que o conhecer,
a nós mesmos e aos outros,
os limites e as possibilidades,
é contar com a força da Ruah divina,
a presença amorosa de Deus em nós
e sempre junto conosco,
e discernir a melhor forma de lidar com isso,
com muita paciência e busca de sapiência,
com ternura e vigor, fé e esperança:
cultivarmos a boa semente semeada,
vivermos cientes da presença do joio,
observarmos o crescimento das espigas,
e cuidar do decisivo tempo da colheita,
quando arrancamos o joio e o trigo,
mas o primeiro para queimá-lo,
e o segundo para recolhê-lo no celeiro.
Que em nossas relações humanas,
na vida em família,
na convivência em comunidade,
no trabalho e nos conflitos da sociedade,
nas lutas e embates, celebrações e festas,
na política, na economia e na partilha da vida,
iluminados pela tua vida humana,
pela tua práxis libertadora e misericórdia infinita,
esperançados por tua presença sempre conosco,
cientes do projeto salvífico do Abba,
busquemos juntos, e de mãos dadas,
a sabedoria do cultivo do trigo diante do joio.
Edward Guimarães
Belo Horizonte, 23 de julho de 2022.
Poema oração provocado pelo Evangelho (Mateus 13, 24-30).
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