São tantos irmãos e irmãs famintos, na insegurança alimentar,
o desemprego e o subemprego agudizam a dor dos excluídos
e o que resta de nossos povos originários é alvo da cobiça,
as periferias, abandonadas, são novas senzalas deste tempo.
Quando contemplo as trevas deste tempo,
oh Profeta fiel até as consequências da cruz,
a grande tentação é refazer a pergunta dos fariseus:
quando chegará o teu Reino e a necessária libertação?
Nesta hora, não posso deixar arrefecer a memória da história,
compreender a dinâmica responsabilizadora de cada profecia:
acolher a luz da Ruah divina e discernir os caminhos a seguir,
o Reino exige decisão e não faz, por nós, o que é nosso dever.
Então recordo que o teu Reino suscita profetas e profetisas:
nas lutas infindas, e resistência rebelde, dos povos originários,
nas lutas libertarias, e resistência quilomba, dos negros escravizados,
nas lutas teimosas das mulheres contra legiões de patriarcais…
A tua vida confirma que o Reino está no meio de nós,
oh Filho do Homem, Profeta crucificado e ressuscitado,
sim, é preciso ver criticamente a realidade da vida do povo,
iluminá-la com a luz e a força de tua Palavra viva e profética,
encarnada no grito que sacode a justiça, nas lutas dos pobres,
e a agir de mãos dadas, com a mesma coragem dos mártires,
na busca contínua, justa, fraterna e solidária, do bem viver.
Belo Horizonte, 11 de novembro de 2021.
Poema oração provocado pelo Evangelho (Lucas 17, 20-25).
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