Eu tive um aluno que compartilhou comigo o seu maior aprendizado com o Mal de Parkinson, doença que desenvolvera precocemente. Com a sensibilidade de artista, aprendeu que nós não devemos viver como se tivéssemos, ao nosso dispor, todo o tempo do mundo! Dizia que aprendeu a encarar de frente, ao acordar, que o dia que começava era o seu último dia. Então, procurava vivê-lo com total atenção, vigilante, cada encontro, cada oportunidade, cada trabalho, cada escrita, cada lição, cada aprendizado, com um senso de urgência à flor da pele, sem protelações… Não haveria um amanhã, mas apenas o hoje, o aqui e agora.
Esta situação existencial oportunizou a ele acesso singular à nervura do real e ao desenvolvimento paulatino de preciosa sabedoria: a do bem viver cotidiano, consigo mesmo, com as pessoas ao seu redor, com os seres vivos, a do discernimento existencial dos desejos, sentimentos e ações.
Partilhei, então, com ele a experiência de dom Pedro Casaldáliga com o Mal de Parkinson, a quem ele chamava de “meu irmãozinho teimoso, mas companheiro fiel, sempre presente!”. Pedro assumiu a doença em seu profético cotidiano de amar e servir! Não encarou o Parkinson como empecilho ou barreira para a continuidade da realização de seu projeto de vida.
Várias luas, confesso, pus me a meditar ao me colocar no lugar e na luta diária de meu aluno, que se transformou em um de meus mestres. Quantas procrastinações vamos nos permitindo, quantos sonhos e metas postergados, quantos erros cometidos, oportunidades de aprendizado e aperfeiçoamento ou pedidos de perdão vamos deixando para frente, como se tivéssemos, ao nosso dispor, todo o tempo do mundo.
Dai-nos, Senhor, o dom do discernimento e a coragem de aprender as lições para o bem viver!
Edward Guimarães
Belo Horizonte, 17 de julho de 2023.
Foto: Pedro Casaldáliga (16/02/1928-08/08/2020), que fez do Parkinson um companheiro na jornada da vida.
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