Quem, de mais de 5 séculos de história,
ao ver a tua ignóbil situação, Yanomami,
não sentir sangrar a sua própria entranha,
por teu cruento e arquitetado genocídio,
vive em profundo estado de ignorância,
nutrido pela abjeta ideologia opressora,
escravizado pela insana cobiça do ouro,
alienado pela sedução do deus mercado.
Quem de nós assim resistiria, Yanomami,
insistiria bravamente, como tu, em viver,
se nosso espaço-lar fosse açambarcado,
se fôssemos tão humilhados pela fome,
e nossos filhos e pais idosos morressem,
se nossas mulheres fossem violentadas,
se nossa cultura fosse assim desprezada,
e nossos direitos fundamentais pisoteados?
Tua resistência, Yanomami, muito nos interpela,
a chorarmos teu luto, tua dor por tantas perdas,
a partilharmos desse pão que o diabo amassa,
a abraçarmos como nossa tua tão digna causa,
a denunciarmos a sordidez do crime fratricida,
a bem cuidarmos da Mãe Terra que nos hospeda,
a reacendermos a frágil chama da alegria de viver,
da esperança de já aqui construir a “Terra sem males”.
Edward Guimarães
Belo Horizonte, 1 de fevereiro de 2023.
Foto: Registro da trágica e desumana situação atual das crianças Yanomami.
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