Os escribas, como mestres da lei, questionavam
a tua autoridade divina para perdoar os pecados,
oh Profeta do amor misericordioso de nosso Deus,
mesmo quando tu curavas pessoas pela força da fé:
tal conflito era por zelo, interesse ou dureza de coração?
O importante e decisivo de tua práxis libertadora,
não é focar nessas querelas com os mestres da lei,
mas no que a todos, em si mesma, ela nos revela:
uma inédita proximidade amorosa do Abba querido,
que, por puro amor e graça, atua na vida da gente.
A religião, com os seus ritos, símbolos e preceitos,
com toda a sua estrutura e regramento doutrinal,
existe para favorecer o nosso encontro com Deus,
e, pela luz do amor divino, o nosso encontro de irmãos,
ou exercer controle sobre os nossos passos e escolhas?
A tua práxis libertadora interpela e coloca em xeque,
certa compreensão da crença, estreita e manipulativa,
defendida, pela hierarquia religiosa, com zelo e rigor:
o poder da religião e da mediação do Templo e da lei,
para arbitrar a aliança de amor entre Deus e o povo.
A tua práxis libertadora questiona essa lógica do poder,
a centralidade fria do Templo em uma relação de amor,
o controle de leis que nos impõe uma religião do dever,
que coloca limites de acesso ao agir amoroso de Deus,
pois, tu oferecias a todos a proximidade do Abba querido.
Assim, tu revelavas a função da religião em nossa vida,
organizar as pessoas em rede de pequenas comunidades,
grupos de fé e partilha comprometidos com o bem comum,
com o dar as mãos e caminharmos juntos como irmãos e irmãs,
nas lutas dos pobres e excluídos por uma vida digna para todos,
e no louvor ao Deus da vida que nos liberta, nos ama e nos irmana.
Edward Guimarães
Belo Horizonte, 13 de janeiro de 2023.
Poema oração provocado pelo Evangelho (Mateus 9, 1-8).
Foto: Ao fundo, uma frase que define o jeito de ser Igreja das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs e Sônia Oliveira, coordenadora do Conselho Nacional do Laicato do Brasil – CNLB, em julho de 2019.
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