E se a ferida é na alma?
E se o sofrimento é oceânico?
E se o coração não encontra consolo?
Diante de tantos corpos feridos, sem vida,
irmanados no chão pelo sangue derramado,
pela falta de políticas públicas básicas,
e embarcados neste país à deriva,
nossa utopia esperançada se agiganta,
nosso sonho teimoso renasce no horizonte,
em defesa inquebrantável da dignidade da vida.
Das senzalas e porões da humanidade,
do mais profundo e de forma lancinante,
brota na garganta e entoamos aquele grito,
que pela indignação se faz Canto Novo,
canto geral de amor, subversivo e compartilhado,
que renova as fontes e inspira para a páscoa da política,
passagem das lágrimas e do luto às lutas decisivas,
e ainda que em plena travessia, na noite mais escura,
gritamos: – “Ninguém solta a mão de ninguém!”,
pois, o que está em jogo nesta peleja dá sentido ao viver,
é o desejo forte de ver outro amanhã possível alvorecer.
E o amor continuará, ainda que frágil como uma chama,
a animar por dentro nossa coletiva construção,
a vencer as forças dos poderosos desse mundo,
e ainda que continuem a exibir as suas armas,
e a intimidar ampliando o arrocho dos crucificados,
a derramar o sangue dos profetas,
a difamar os puros de coração,
dos que ousam andar livres na contramão,
como Jesus, continuaremos a ressuscitar,
nas lutas históricas infindas dos oprimidos,
por saúde, vacina, cidadania, dignidade para todos,
por terra-teto-trabalho… pelo pão da libertação.
Edward Guimarães
Poesia inspirada e provocada pelo poema Canto Novo, de Paulo Gabriel: GABRIEL, Paulo. Poemas para iluminar a noite. Belo Horizonte: Mazza, 2020, p. 29.
Seja o primeiro a comentar