Uma de minhas maiores decepções atuais, como cidadão e educador, e que me causa profunda tristeza é ver pessoas que amo e que admiro, amigos, familiares, cristãos… apoiando o que há de pior no atual cenário político de nosso país.
A política, para mim, é essa ferramenta complexa que precisa ser bem cuidada para cumprir a sua função maior: construir o bem comum (e não de alguns privilegiados e poderosos), concretizar a justiça social e zelar pela dignidade da vida de cada pessoa, desde os mais socialmente vulneráveis. Nesse sentido, o papa Francisco clama pela verdadeira e boa política em sua Fratelli Tutti e a declara como uma mediação para o exercício da solidariedade e o aperfeiçoamento da vida em sociedade.
Eu me pergunto, sinceramente, o por quê de tudo isso estar acontecendo em nosso país, pois é tão explícito os limites humanos e éticos de uma personalidade doentia e perversa como a do atual presidente. Será que está faltando distanciamento crítico em nós? Será que falta memória da história recente de nosso país? Será que a cultura do ódio de classe ou o ódio, que foi intencionalmente arquitetado e construído lentamente com a conivência de nossas mídias digitais e outros meios de comunicação social, contra o Partido dos Trabalhadores e Trabalhadoras (colocado como a causa ou o culpado de tudo de ruim no país, como se os graves problemas brasileiros não existissem antes de 1979 ou de 2003, primeira eleição de Lula para presidente), lhes cegam para que tomem distância e avaliem o que está acontecendo em nosso país tão injusto e desigual? Por que não estão percebendo a grave crise social de nosso país? Estão numa bolha ideológica ou de privilégios e/ou interesses que impede de ver a realidade e as causas do que está acontecendo?
Sempre achei importante estimular a avaliação crítica e autocrítica, de forma dialogal e respeitosa, na sala de aula, em rodas de conversa, em encontros formais ou informais, seja de um governo, de uma prática social política, cultural, religiosa, seja de uma determinada postura diante de um fato da vida.
É tão importante reconhecermos miopias, visões ingênuas, parciais… E depois de um bate-papo, uma leitura fundamentada, uma roda de conversa de alto nível… ampliarmos a nossa compreensão crítica e autocrítica da realidade. É uma experiência libertadora!
Meu Deus, onde é que o atual presidente e seus ministros estão acertando que não estou enxergando? Nas políticas de saúde pública?, nas políticas de educação pública?, nas políticas de geração de emprego e renda?, nas políticas de saneamento básico e de conquista da moradia?, nas políticas de transporte e de segurança pública?, nas políticas de combate a miséria e de inclusão social dos pobres e famintos?, nas políticas de defesa dos povos originários e quilombolas?, nas políticas de reforma agrária e estímulo a agricultura familiar?, nas políticas de reforma tributária e de defesa do poder aquisitivo do salário mínimo?, nas políticas de tributação justa?, nas políticas de combate a corrupção e aos privilégios de casta e de classe?, nas políticas de cuidado com o pacto federativo para que todos os brasileiros e brasileiras se sintam contemplados?, nas políticas de relações internacionais junto à ONU, ao G 20, ao Mercosul…?, nas políticas de defesa dos direitos humanos e no combate ao trabalho escravo?, nas políticas de ecologia integral e cuidado com a nossa casa comum? E poderia continuar a perguntar…
Eu clamo para cada um de vocês, que tomem distância de suas ideologias, de seus interesses pessoais e que avaliem criticamente e com bom senso, de forma individual e coletiva, o atual governo federal.
Estamos em um ano eleitoral. Não podemos esquecer que os atuais membros do Congresso Nacional (senadores) e a Câmara Federal (deputados federais) e de cada Estado (deputados estaduais) foram eleitos por nós. O que eu disse sobre o atual governo federal vale para o governo estadual e para o poder legislativo. Já sabemos em quem vamos votar para o poder legislativo e executivo federal e estadual? Não se esqueçam que o nosso voto pode ser sujo de sangue indígena, dos jovens negros assassinados nas periferias, do sangue que jorra diariamente na cruz da exclusão, do desemprego e da falta de políticas públicas.
Ainda dá tempo de corrigirmos o que está em curso: um projeto político de destruição de nossa Constituição cidadã, do pacto federativo que sustenta o Brasil e de nossa frágil democracia. Toda democracia é frágil em contexto de profundas desigualdades!
Edward Guimarães
Belo Horizonte, 24 de abril de 2022.
Caro Edward, concordo em quase tudo que disse. Também não compreendo como tanto lodo veio à tona nestes últimos anos, mas ele estava lá no fundo. Não tenho dúvidas que o desconhecimento histórico ajudou muito neste atual contexto, um desconhecimento proposital. Mas penso também que Lula, e o PT foram obrigados a realizar concessões, lá atrás, para chegar ao poder. Não poderiam esperar muito de Sarney, ACM e outros com ele precisou se aliar. O preço demorou um pouco mas foi cobrado, e vejo no atual discurso do PT, um apagão em relação ao governo da Dilma, tão desastroso em vários aspectos técnicos. Mas foi a primeira vez que um “outsider” chegou ao poder e talvez precisaremos de mais, em mais tempo, para corrigir as enormes distorções que tão bem colocou. Abraços
Tenho sofrido sem saber o que falar em situações com vizinhos, grupos e parentes – pessoas que eu sempre acreditei sérias, mas se manifestam tão convictas em manter apoio (e cada vez mais explicito) a este inominável (e seus asseclas) – o seu texto, Edward, nos anima a refletir, saber que não é simples e buscar argumentos no fundo alma – tentando ser misericordiosos… (!) Mas como é dificil e quanto vai ficar ainda neste ano… De fato não basta confrontar, ir contra. Precisamos buscar argumentos que possam mudar as mentes. Nossas “convicções” e certezas, clarezas que temos são da nossa “bolha”. O desafio é entrar nas outras bolhas de forma séria. O texto já ajuda. Teremos que pensar, orar, reler os profetas todos, rever a nós mesmos. Saber que nenhum lado é perfeito… mas tem um lado sombrio que as pessoas nao querem ver, apenas porque nunca aceitaram que um operário (e que o povo possa e deva se libertar das amarras) pudesse e possa, com apoio da sociedade não fazer mágicas, mas abrir espaços para um país, um mundo, um planeta sério, digno e justo para todos. Agradeço pela sua coragem abordar esta temática tão clara para nós e tão dificil de provocar nos que estão “travados”…
Tenho sofrido sem saber o que falar em situações com vizinhos, grupos e parentes – pessoas que eu sempre acreditei sérias, mas se manifestam tão convictas em manter apoio (e cada vez mais explicito) a este inominável (e seus asseclas) – o seu texto, Edward, nos anima a refletir, saber que não é simples e buscar argumentos no fundo alma – tentando ser misericordiosos… (!) Mas como é dificil e quanto vai ficar ainda neste ano… De fato não basta confrontar, ir contra. Precisamos buscar argumentos que possam mudar as mentes. Nossas “convicções” e certezas, clarezas que temos são da nossa “bolha”. O desafio é entrar nas outras bolhas de forma séria. O texto já ajuda. Teremos que pensar, orar, reler os profetas todos, rever a nós mesmos. Saber que nenhum lado é perfeito… mas tem um lado sombrio que as pessoas nao querem ver, apenas porque nunca aceitaram que um operário (e que o povo possa e deva se libertar das amarras) pudesse e possa, com apoio da sociedade não fazer mágicas, mas abrir espaços para um país, um mundo, um planeta sério, digno e justo para todos. Agradeço pela sua coragem abordar esta temática tão clara para nós e tão dificil de provocar nos que estão “travados”…
Amado mestre… Tu sabes o quanto te admiro e amo… Mas, não consigo delinear tamanha inocência ou ingenuidade em tua visão política!
Estamos em tempos turbulentos e nebulosos, onde o certo é errado e o errado é certo… Onde o criminoso tem liberdade e é inocentado e o justo é condenado e preso… Onde a mídia que ocupa um grande espaço na vida do brasileiro se permite veicular notícias distorcidas, ao seu favor e propósito… Onde uma suprema corte julga a favor de bandidos e não a favor do povo, do pobre, da família, dos direitos de todos…
É assim que o comunismo e socialismo querem tomar conta novamente do Brasil…
Esse homem que você diz no seu texto que é o “pior no atual cenário político” é o que está ainda nos dando uma chance do Brasil ter liberdade de expressão, liberdade pra nossas crianças terem uma infância sem ter que escolherem se são meninos, meninas ou não binárias e apenas viverem felizes como são…
É preciso resgatar valores que foram jogadas na lama, no lodo que foi formado desde a primeira gestão presidencial petista… Na verdade esse lodo vem se perpetuando na política brasileira de forma geral… A CORRUPÇÃO está enraigada na política que se torna muito difícil de se fazer uma limpeza nesse Brasil.
Precisamos de um homem que “peite” esse sistema corrupto e que não se corrompa! Que faça política e não alianças com países onde a forma de governar não está dando certo para o povo e só apenas pro governante.
Sim, vou continuar apostando nesse homem que você despreza, pois ele ainda demonstra ser bem mais verdadeiro que esse que se aclama pai dos pobres, mas que na verdade usa a pobreza e as necessidades dos pobres pra escravizá-los. DIGO NÃO AO LADRÃO…
Abraços e obrigado por sua preocupação…
Meu olhar é 100% invertido e contrário ao seu. Com todo respeito, pensamos exatamente o oposto do outro, embora quero crer, que queremos a mesma coisa. O melhor para o Brasil e para todos os brasileiros e brasileiras, desde os mais pobres. Bolsonaro, no meu julgar, é a antítese do ser político e do homem ético. Para mim, se me permite dizer, só tem algo pior do que o Bolsonaro: o bolsonarismo que o apoia e que dá sustentação ao seu necrogoverno fascista e aporofóbico. Eu sei que você está brincando comigo. Grande abraço.