O que continuamos a fazer contigo me assusta

O que fizeram contigo Anás, Caifás, Herodes e Pilatos
e tantos outros, doutores da Lei, fariseus, soldados…
oh Profeta preso, condenado injustamente e torturado,
revela o quanto podemos ser cruéis uns com os outros,
o quanto podemos ser insanos, perversos e violentos
na defesa cega de nossos privilégios de classe e casta.

O que fizeram contigo revela a frágil condição humana,
oh Profeta revelador do Amor gratuito de Deus por nós,
mostra o quão importante é cultivarmos o discernimento,
dar atenção ao “vigiar e orar” para não cair nas tentações:
da arrogância, cegueira ideológica e defesa de vis interesses,
que nos faz implacáveis e violentos no eliminar as ameaças.

Mas é o que continuamos a fazer contigo que me assusta,
oh Mestre do caminho da libertação de nossos egoísmos,
depois de tua práxis libertadora e tua fidelidade ao Reino,
até as últimas consequências na cruz, muitos atualmente,
que assumem o nome de cristãos e que falam em teu nome,
comungam à mesa dos Caifás, Herodes e Pilatos de hoje:
os que promovem a religião intimista, alienante e cúmplice,
os que oprimem pela destruição das políticas públicas sociais,
os que desqualificam a luta e a defesa dos direitos humanos,
os que crucificam e matam pela agonia da exclusão da cidadania,
os que perseguem, torturam e matam os profetas e profetizas,
os que violentam os nossos povos originários e os quilombolas,
os que defendem e assumem violentamente a cultura patriarcal.

Edward Guimarães
Belo Horizonte, 16 de abril de 2022.
Poema provocado pelo Evangelho (João 19, 1-24).
Pintura: Pe. Rutílio Grande (1928-1977), assassinado, três anos antes de dom Oscar Romero, em El Salvador, por sua defesa incondicional da dignidade dos mais pobres e dos direitos sociais dos excluídos da mesa das dignidade dos filhos e filhas de Deus.

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